Cláudio Guimarães lança Gaugamela

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Cláudio Guimarães dos Santos considera que o termo “metamorfose ambulante” poderia, com algumas ressalvas, aplicar-se a ele, tendo em vista a diversidade e as múltiplas facetas da sua trajetória existencial. O poeta — que é médico, mestre em artes, doutor em linguística e, atualmente, diplomata de carreira —, atuou como professor e pesquisador na área das neurociências, expôs pinturas e esculturas nos principais museus de São Paulo e fez incursões no cinema. “Eu vivi intensamente cada uma dessas fases, que considero verdadeiras ‘encarnações’, mas a poesia esteve sempre presente — onipresente — desde a adolescência, e é ela que, no fim das contas, sintetiza, unifica e dá o sentido maior ao meu estar no mundo”, afirma o autor, que está lançando sua quarta coletânea de poemas, GAUGAMELA, pela editora Francisco Alves.

Cláudio confessa que refletiu bastante antes de tomar a decisão de publicar a presente coletânea: “Relutei em lançar um livro em meio ao feroz embate ideológico-partidário que contamina, negativamente, as iniciativas culturais em todo o mundo, especialmente no Brasil. O Embaixador Renato Prado Guimarães, porém, grande amigo e apreciador do meu trabalho, acabou por convencer-me, argumentando que a poesia que escrevo é necessária ao nosso tempo, que ela é capaz de fazer com que as pessoas voltem a surpreender-se com o mistério da existência, com as epifanias que nos cercam e pelas quais passamos muitas vezes distraídos”.

Quase todos os 25 poemas de GAUGAMELA foram amadurecidos nos últimos dois anos e carregam, por isso mesmo, as marcas desses tempos difíceis, complexos e confusos. Na Apresentação incluída no livro, o professor Leandro Garcia afirma: “se uma das características do clássico é a permanência, creio que a máxima segundo a qual certos livros já nascem clássicos aplica-se perfeitamente à presente obra, pois ela permanecerá — não tenho dúvida — pela força e pela qualidade estética dos seus poemas, bem como pela profundidade das reflexões filosóficas que marcam cada um deles. Trata-se de característica que contrasta nitidamente com a irrelevância dos modismos literários, tão comuns em nossos dias, e dos quais Cláudio Guimarães dos Santos passa ao largo, construindo sua refinada poética de maneira consistente (…)”.

O título do livro — GAUGAMELA — também é o nome do poema que fala de uma batalha fundamental para a história da humanidade, na qual se opuseram Alexandre, o Grande, da Macedônia, e o persa Dario III. Trata-se, ainda segundo o professor Leandro Garcia, de um poema “caudaloso, complexo, narrativo, dramático, essencialmente épico. Nele, a presença da inspiração homérica é clara e benfazeja, bem como o são as heranças de Virgílio, de Dante e de Camões”. Inevitável a comparação desse crucial enfrentamento bélico, ocorrido em 331 a.C., com as tensões e conflitos — abertos ou velados — que marcam nossa época.

Outro poema que chama a atenção, quando pensamos na atualidade, é “Depois da peste”. Segundo o autor, esse poema, apesar de ter sido escrito durante a pandemia que assolou o mundo — e de ecoar, justamente por isso, esses momentos difíceis —, tem um foco simultaneamente mais amplo e mais restrito: “Nele, eu falo da superação de uma crise pessoal profunda, na verdade da superação de qualquer crise essencial, e é certamente por isso que os leitores se identificam tanto com ele”.

Quando a peste for embora,

Se, com ela, eu não partir,

Passarei alguns momentos

A contemplar o Nada,

Todos os dias.

(…)

Darei graças pela vida renascida,

Por ter preservado a lucidez

E a clareza concentrada da poesia,

Que perfura como um laser,

Que prescruta muito além dos fatos brutos,

Que consegue ler os signos mais herméticos

E elevar os corações de chumbo, (…)

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